Marcha do PCP tinge Lisboa de vermelho

A alternativa constrói-se<br> na luta de todos os dias

Menos de uma se­mana após a grande ar­ruada da CDU que en­cerrou a cam­panha em Lisboa, o PCP en­cheu as ruas da Baixa, no dia 29, com a exi­gência de de­missão do Go­verno.

O PCP trouxe às ruas a in­dig­nação, o pro­testo e a al­ter­na­tiva

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Entre uma e outra acção pas­saram apenas seis dias, mas muita coisa acon­teceu en­tre­tanto, par­ti­cu­lar­mente a he­ca­tombe elei­toral so­frida pela mai­oria que sus­tenta o Go­verno nas elei­ções para o Par­la­mento Eu­ropeu e o re­le­vante avanço das po­si­ções da CDU no mesmo acto elei­toral. As ban­deiras mu­daram, com as co­lo­ridas da CDU a darem lugar às ver­me­lhas do PCP, mas as pa­la­vras de ordem e rei­vin­di­ca­ções foram em tudo se­me­lhantes – de­missão do Go­verno, elei­ções an­te­ci­padas, cons­trução de uma po­lí­tica al­ter­na­tiva, pa­trió­tica e de es­querda – muito em­bora re­for­çadas, na marcha de dia 29, pelo ve­re­dito do povo nas elei­ções re­a­li­zadas quatro dias antes.

Com con­cen­tração mar­cada para as 18h30 junto à es­tação fer­ro­viária do Rossio, a marcha per­correu vá­rias ruas da Baixa lis­boeta, que àquela hora se en­con­trava re­pleta não apenas de tu­ristas como também de tra­ba­lha­dores que se pre­pa­ravam para re­gressar a casa. A ne­nhum destes a ma­ni­fes­tação do PCP foi in­di­fe­rente, pela sua di­mensão e com­ba­ti­vi­dade. Entre os pri­meiros, muitos ti­raram fo­to­gra­fias, im­pres­si­o­nados; dos se­gundos vi­eram sau­da­ções e aplausos, ha­vendo mesmo quem se tenha jun­tado ao cor­tejo e nele se­guido até ao fim do per­curso – no co­ração da Rua Au­gusta. «Go­verno rua! Elei­ções já!» e «Mais um em­purrão e o Go­verno vai ao chão» foram duas pa­la­vras de ordem par­ti­cu­lar­mente sau­dadas por aqueles com quem a ma­ni­fes­tação se cruzou no final de tarde de quinta-feira.

Go­verno «sem cura nem sal­vação»

Num pe­queno palco mon­tado a meio da Rua Au­gusta, o Se­cre­tário-geral do PCP in­sistiu na ideia de que o Go­verno há muito perdeu a le­gi­ti­mi­dade para go­vernar, algo que os re­sul­tados elei­to­rais vi­eram a con­firmar. Para Je­ró­nimo de Sousa, o Go­verno chegou ao poder através da men­tira, ga­ran­tindo que nunca faria muito da­quilo que se apressou a fazer mal teve opor­tu­ni­dade. PSD e CDS podem ter a mai­oria em São Bento, mas há muito que a per­deram no País, acres­centou o di­ri­gente co­mu­nista.

Sa­li­en­tando que, com esta marcha, o PCP não fazia mais do que trazer para a rua o «pro­fundo des­con­ten­ta­mento» e a von­tade de mu­dança que o povo ma­ni­festou nas urnas dias antes, Je­ró­nimo de Sousa re­alçou o «pro­fundo im­pacto po­lí­tico» dos re­sul­tados elei­to­rais, que ex­pres­saram de forma inequí­voca a «grande cen­sura po­pular» ao Go­verno e à sua po­lí­tica. Ou não ti­vessem os três anos de vi­gência deste Go­verno (os anos do pacto de agressão as­si­nado por PS, PSD e CDS com a troika FMI, BCE e UE) fi­cado mar­cados pelo mais brutal re­tro­cesso eco­nó­mico e so­cial deste os tempos do fas­cismo.

Nestes anos, lem­brou o di­ri­gente do PCP, Por­tugal re­gistou tristes re­cordes: mais 670 mil de­sem­pre­gados; 470 mil em­pregos des­truídos; 600 mil por­tu­gueses lan­çados na po­breza; uma re­cessão su­pe­rior a seis por cento; mais de 200 mil pes­soas em­pur­radas para a emi­gração; quase 100 mil em­presas li­qui­dadas; um País mais en­di­vi­dado e su­jeito a um ser­viço da dí­vida in­sus­ten­tável; en­trega ao grande ca­pital de em­presas e sec­tores es­tra­té­gicos; e a des­truição de im­por­tantes ser­viços pú­blicos. Ou seja, re­alçou Je­ró­nimo de Sousa, Por­tugal é hoje um País «mais frágil, mais pobre, mais de­si­gual, mais in­justo, mais en­di­vi­dado, mais de­pen­dente».

Pe­rante estes factos e a ver­da­deira «fuga para a frente» que o Go­verno está a pre­parar, com o Do­cu­mento de Es­tra­tégia Or­ça­mental e as pro­postas de al­te­ração às leis la­bo­rais que tem em cima da mesa, Je­ró­nimo de Sousa ga­rante que o exe­cu­tivo PSD-CDS «não tem cura nem sal­vação». A so­lução, acres­centou, passa pela sua de­missão e pela rup­tura com a po­lí­tica de di­reita, abrindo-se o ca­minho para a cons­trução de uma po­lí­tica al­ter­na­tiva.




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